Vencedora do prêmio Jabuti de “melhor biografia” e “melhor livro de não-ficção”, a obra “Carmen: Uma Biografia” (Companhia das Letras, 2005) apresenta a fascinante história de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século 20. Com texto envolvente, riquíssimo em detalhes e histórias de bastidores, o jornalista e escritor Ruy Castro reconstrói a meteórica e conturbada trajetória da estrela, revelando a história de sua intimidade e de sua vida pública, desde seu nascimento até a morte precoce aos 46 anos, vítima do abuso de substâncias que massacraram seu organismo. Saiba mais sobre o livro.
Crônica Visitante – Fórum de Literatura
1 fevHá alguns anos, Murilo Martins e eu, fomos a Recife para um congresso de academias de letras do nordeste. Acorreu gente de diversos estados. Achei estranho que na noite da abertura à mesa diretiva só tivesse pernambucanos. Comentei com o Murilo. No dia seguinte, observei a mesma coisa. Só pernambucanos na direção das mesas e grupos de estudos e todos os demais nordestinos na platéia. Levantei-me e reclamei. Foi um escarcéu. Conto este fato para dizer que, nesta semana, por iniciativa da Secretaria de Cultura do Ceará, houve uma reunião, previamente agendada, para se criar um Fórum de Literatura Cearense.
A conversa foi aberta, franca e todos tiveram vez. Não se agiu à moda pernambucana. Auto Filho parece ter auscultado o seu espírito gramsciano e agiu como um democrata. A pauta foi discutida por todos, desde as secretarias de cultura do Ceará, de Fortaleza e de Maracanaú, academias Cearense e Fortalezense, grupos que publicam jornais culturais, autores, intelectuais, curiosos e até por membros do Clube do Bode, essa desinstituição – desinstituição mesmo – que comete cultura, vez por outra.
Pois bem, louvo o modo como todos se conduziram, sem pensar em hierarquia, discutindo, ponderando no todo e admitindo haver necessidade de repensar coletivamente a literatura cearense que, no dizer do Carlos Emílio Correia Lima, vanguardista e polêmico escritor, precisa se tocar e mostrar uma nova cara. Não dá mais para brincar de cultura e literatura, ou restringi-la apenas aos acadêmicos, tampouco se empanturrar com salgadinhos e bebidas em lançamentos contínuos de livros que são publicados e que não têm, na sua maioria, qualidade literária alguma.
É bom lembrar o célebre diálogo shakespeareano entre Polônio e Hamlet em que aquele pergunta a este: “O que estais lendo, meu Senhor?” Ao que Hamlet responde: “palavras, palavras, palavras”. Um aglomerado de palavras não é, necessariamente, um livro. É bom que a fogueira das vaidades diminua suas chamas e a modéstia possa habitar as mentes dos que estão, a partir da tarefa delegada, incumbidos de institucionalizar o Fórum, como elemento condutor de um novo tempo para a literatura cearense. Seja este ano de 2009, regido pelo sol, o astro a iluminar a nossa equatorial terra comum e que, igualmente, possa aquecer a imaginação de todos os intelectuais e agentes da cultura, encarregados da faina. Mãos à obra.
João Soares Neto
Publicado no Portal dos Amigos do Livro
Aonde sua determinação te leva?
21 dezCom a mala cheia de sonhos em mãos, despediu-se dos pais e partiu para o Sul Maravilha. Esta poderia ser mais uma história de um jovem fugindo das intempéries do sertão cearense em busca de melhores condições de vida. Uma determinação que muitos tentam explicar falando que o “sertanejo é um forte”, que não acomoda diante da seca luta pela sobrevivência até o fim.
Entre tantos Pereiras, Valmir nasceu em Cariré a 300km de Fortaleza e conseguiu trocar a rapadura com farinha pelo caviar e os melhores vinhos . Hoje ele é sommelier e sócio do D´Amici, restaurante no Rio de Janeiro, que vende até 1.400 garrafas de vinho por mês.
Uma história com tantos percursos e que nos dá orgulho, como mostra o perfil “Do Cariré ao caviar”, publicado no blog Poder da Mesa de Lydia Medeiros. E em breve a trajetória chegará as prateleiras das livrarias. O conterâneo e poeta Cláudio Aragão foi o ghost-writer desta história de sucesso.
Ir tão longe, se ver e ser do tamanho dos própios sonhos me faz lembrar a também cariréense, profa. Adísia Sá. De família humilde e cheia de sonhos foi à luta até encontrar seu lugar no mundo. Seu trajeto, no entanto, mais curto, foi a Sobral e terminou em Fortaleza onde mora. Viajou por algumas cidades do mundo, plantou e colheu frutos como jornalista, função que desempenha há mais de 50 anos. [ Sem esquecer que é também professora, palestrante, articulista e comentarista]. Venceu preconceitos, foi a primeira mulher cearense, formalmente a trabalhar em uma redação de jornal no estado. Ajudou a nascer o curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará… Eita, mulher arretada!
Nem de longe vislumbrava isso enquanto rabiscava seu jornalzinho manuscrito o MABS ( Maria Adísia Barros de Sá). Mas, se entretinha entre as letras e livros e dormia embalada ao som das rotativas, pois morava na rua que abrigava a maioria das oficinas dos jornais da época.
Ela acreditou, correu, suou, chorou. Fez acontecer, teve atitude. Conquistou espaço e reconhecimento. A profa. Adísia e o Valmir Pereira são gigantes no que fazem seguir em frente e ter a certeza de que vale a pena lutar, mas que é preciso dor para passar além do Bojador, como escreveu Fernando Pessoa.