O sentimento seria o mesmo. O sentimento seria REALMENTE o mesmo? – Difícil precisar até para si mesma, nem mesmo procurando pelas reminiscências. Como saber que sensação teria naquela época, após passados quase 20 anos ? Que sabor doce, quantas batidas no coração, o brilho no olho pela conquista.
Para alguns poderia parecer algo tão ínfimo. Para ela não, relíquia pura, um desses tesouros sem preço definido em que se mostra aos amigos com orgulho. No entanto, com certos cuidados como não trazer à tona na hora das refeições, como durante o café para que ninguém ouse engordurar de manteiga ou sujar. Vá entender o valor de um jornal.
Quantas noites pediu ao Papai do Céu que fosse naquele domingo. Acordava cedinho e pegava o jornal, sobre a grama do jardim. E em um ímpeto egoísta, não anunciava a ninguém que o jornaleiro já passara. Simplesmente rasgava o saco plástico, ainda sentada na calçada e procurava pelo suplemento infantil. Em vão. Uma paciência de Jó lhe faltava. Quase um ano de espera e uma esperança miúda por demais, apertava por dentro. Tanto que só saiu publicada a redação, quando a pequena já descansara o entusiasmo. O que não a impediu de ter essa felicidade em mãos e guardada pelos olhos dentro do coração.
O texto escrito em caligrafia cuidadosa veio ao mundo em uma tarde de sábado, durante um concurso de Redação no Shoping Iguatemi. Tempos longínquos, final dos anos 80! Mas, foi algo que a marcou. Levou algum tempo para redigir, pensar nos diálogos, buscar as palavras. Talvez a mãe tenha ido às compras e deixado a menina ali por enquanto, onde já se viu quebrar tamanha inspiração?