Incentivos para escritores e o problema da má formação de leitores

21 jan

* Dei um controucêcontrouvê e colei a matéria na íntegra aqui. O texto levanta muitas questões, por isso grifei algumas partes.  Como um escritor pode sobreviver longe das prateleiras? O patrão é o leitor e todo escritor precisa ser lido, até mesmo porque ganhar dinheiro a partir de livros é privilégios para poucos neste país de “desletrados” – leia-se letrados desinteressados ou ‘desdinheirados’ por não acredito que o analfabetismo seja tão significativo hoje.

É verdade que todos os dias pipocam novos editais de incentivo a cultura. Mas, talvez o grande desafio ainda seja, principalmente para os novos ecritores, de como chegar ao público leitor.  Para muitos autores essa aproximação vem através da vitrine net, uma das funções das mídias eletrônicas, ditas alternativas ( Blogs), que tem o poder de interação e muitas vezes de publicação de livros muitas vezes até gratuitos. Vale tudo por um espaço na prateleira seja ela real ou não.

Incentivos permitem a autores sobreviver, mas longe das prateleiras

Bolívar Torres, Jornal do Brasil

RIO – O cenário já é conhecido: enquanto sobram escritores lançados à deriva no fluxo turbulento do mercado, faltam leitores. A equação que se repetiu em 2008 produz um resultado evidente. Salvas gloriosas exceções, é quase impossível para um artista viver de escrever no Brasil sem apoio do governo.

Os incentivos públicos para estimular a criação literária aumentaram, mas o mercado continua excluindo os novos escritores brasileiros.

Um exemplo é a Seleção Pública para Criação Literária: Ficção e Poesia, que distribuiu bolsas para 23 projetos de livro, dos quais cinco foram lançados já neste ano. Graças à bolsa, o poeta Heitor Ferraz, contemplado com o projeto do livro Um a menos, pode se dedicar com mais tranqüilidade à escrita, sem se desgastar em trabalhos paralelos.

Mas não sabe qual será o futuro do seu livro após a publicação.

Defesa de incentivo

– O edital da Petrobras é um projeto inédito que só vai poder ser avaliado mais para frente, mas que com certeza pede aperfeiçoamentos para diminuir a parte burocrática – avalia o autor.

Ferraz defende, além de um incentivo financeiro para quem escreve e a garantia de publicação, ser necessário haver uma ponte entre o autor e os leitores, como projetos de divulgação das obras publicadas.

– Ficaria triste se o lançamento fosse apenas um evento restrito para amigos – acrescenta.

– Ou seja, eu ganhei dinheiro público para escrever o livro, mas e daí? O livro não pode ir para a livraria para alguns poucos lerem…

A bolsa Funarte de Estímulo à Criação Literária também contemplou 10 escritores, dois de cada região do país. Cada autor recebeu R$ 30 mil para desenvolver um livro de poesia ou ficção.

Quem fica de fora das seleções, porém, sofre com a falta de perspectivas. É o caso do escritor carioca Leonardo Vieira de Almeida.

Sem conseguir publicar seu segundo livro, A flor no rosto, viu-se obrigado a disponibilizar a obra gratuitamente na internet, no endereço http://descadiabo.blog.com.

Mestre em Literatura Brasileira, Almeida também precisou abandonar a pesquisa literária, já que sua bolsa de Doutorado na PUC não saiu como prometido. Atualmente, sobrevive trabalhando como revisor de português.

– Passei 2008 quase como um mendigo –lamenta o autor.

É incrível o que esse país faz com as pessoas que trabalham com a literatura. Antigamente, por pior que fosse a situação, os escritores ainda conseguiam viver da escrita publicando contos em revistas. Era uma vida de pobreza, mas dava para viver. Hoje é impossível.

Diante da dificuldade encontrada pelos escritores para se sustentar com as próprias pernas, o que fazer para diminuir a dependência da literatura dos incentivos públicos?

Editor da 7Letras, Jorge Viveiros de Castro, que rema contra a maré do mercado editorial publicando novos autores em tiragens pequenas, confessa que não há solução concreta à vista.

– É uma situação complicada. O mercado editorial cresce, muitos livros são lançados pelas grandes editoras, mas principalmente de autores consagrados do exterior – admite Viveiros de Castro.

Para quem publica novos autores nacionais como nós, está cada vez mais difícil colocar obras nas livrarias. Para falar a verdade, qual seria a solução para reverter esse quadro? Talvez encontrar, na internet, mecanismos que façam os livros chegarem de forma direta num público específico.

O escritor Daniel Galera, que em 2005 exerceu o cargo de coordenador do Livro e da Literatura na Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre, acredita que é preciso priorizar a formação de leitores.

– Na minha percepção, faltou investir em acesso à leitura – sustenta.

Houve muita preocupação em formar escritores, mas não em fornecer livros e formar leitores. Faltam livros mais baratos, criar bibliotecas ou qualquer instrumentos que facilite o acesso à leitura. No Brasil, dado o atual estado das coisas, a prioridade é essa.

Diretor-executivo da ONG Leia Brasil, Jason Prado considera que até pouco tempo o foco dos investimentos em leitura se limitava ao mercado, não à população.

– No Brasil, as ações eram muito voltadas para o mercado editorial – diz.

– Quando se falava em iniciativa para leitura eram investimentos para abrir livrarias ou vender livros.

O atual nível de leitura no país, diz Prado, está associado principalmente à incapacitação dos professores. Ele lembra que, no Ensino Médio, a falha de compreensão na leitura chega a 70%.

– Não há ação competente para acabar imediatamente com essa situação – lamenta.

Secretário executivo do PNLL (Plano Nacional da Leitura e do Livro), José Castilho Marques Neto ressalta que a formação de leitores é um processo lento e complexo:

– Uma das conquistas de 2008 foi a certeza de que não há como tratar separadamente a questão da escrita e da leitura. Não se pode consolidar uma coisa sem outra. Sempre apostamos nas soluções mais complexas.

Formação de leitores

Programas voltados à área foram aperfeiçoados em 2008, como o Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, que se dedica à formação de leitores jovens, adultos neoleitores, leitores mediadores para a promoção da leitura em diferentes espaços sociais.

– Este ano continuamos o desenvolvimento de um programa específico para atender a 800 consultas por mês e disseminar a leitura em diferentes contextos e múltiplas linguagens, como cinema, música e arquitetura – diz a coordenadora Eliana Yunes.

Fonte: JB on Line Publicada no dia 29/12/2008

2 Respostas to “Incentivos para escritores e o problema da má formação de leitores”

  1. Rômulo 22/01/2009 às 21:10 #

    Os ecritores devem escrever para o povo que não gosta de ler.
    Se as pessoas não gostam de ler, ou não tem dinheiro pra comprar livros, então o artista deve levar seu trabalho pro povão.

  2. biografa 23/01/2009 às 21:10 #

    Os escritores devem escrever para todos independente dos que gostam ou não de ler. É óbvio que há um interesse em conquistar novos leitores, em democratizar a leitura. Afinal, para que escrever se não há qem leia?
    Levar o trabalho pro povão sim, mas quem trabalha precisa ganhar pelo “suor do seu rosto”, isto é até bíblico. Escritor também paga conta… Daí a importância do apoio dos orgãos públicos em facilitar este acesso aos bens literários.

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