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Conheça os indicados ao Prêmio Jabuti 2009

21 ago

A segunda fase vai ocorrer em 29 de setembro, com a relação dos três primeiros colocados em cada categoria.

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou os finalistas do 51º Prêmio Jabuti nesta quinta-feira, 20. Nesta primeira etapa do prêmio são divulgados os nomes de dez candidatos para cada uma das 21 categorias de 2009. A segunda fase vai ocorrer em 29 de setembro, com a relação dos três primeiros colocados em cada categoria. Na cerimônia de entrega, em 4 de novembro, serão conhecidos os vencedores dos prêmios de melhor livro de ficção e não-ficção do ano. Confira os indicados nas principais categorias do prêmio (todos os indicados podem ser vistos no site da CBL):

 

Romance

1.º Flores Azuis (Cia. das Letras), de Carola Saavedra

2.º Cordilheira (Cia. das Letras), de Daniel Galera

3.º Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras), de Milton Hatoum

4.º Galileia (Objetiva), de Ronaldo Correia de Brito

5.º Satolep (Cosac Naify), de Vitor Ramil

6.º Manual da Paixão Solitária (Cia. das Letras), de Moacyr Scliar

7.º A Parede no Escuro (Record), de Altair Martins

8.º O Livro dos Nomes (Cia. das Letras), de Maria Esther Maciel

9.º Um Livro em Fuga (Record), de Edgard Telles Ribeiro

10.º Heranças (Rocco), de Silviano Santiago

 

Contos e Crônicas

1.º Canalha! – Crônicas (Editora Bertrand Brasil), de Fabricio Carpinejar

2.º 101 Crônicas – Ungáua! (Publifolha), de Ruy Castro

3.º Ó Editora (Iluminuras), de Nuno Alvares Pessoa de Almeida Ramos

4.º Rasif (Record), de Marcelino Freire

Ostra Feliz Não Faz Pérola (Planeta), de Rubem Alves

5.º Os Comes e Bebes nos Velórios das Gerais e Outras Histórias (Auana), de Déa Rodrigues da Cunha Rocha

6.º Ping Pong – Chinês Por Um Mês: As Aventuras de Um Jornalista Brasileiro Pela China Olímpica (Manuela Editorial – Arte Paubrasil), de Felipe Machado

7.º Crônicas e Outros Escritos de Tarsila do Amaral (Unicamp), de Laura Taddei Brandini (Org.)

8.º Antologia Pessoal (Record), de Eric Nepomuceno

9.º Cheiro de Terra – Contos Fazendeiros (Scortecci), de Lucília Junqueira de Almeida Prado

O Silêncio dos Amantes (Record), de Lya Luft

10.º Vatapaenses Vasos Comunicantes (Gm Minister), de Sergio de Almeida Brun

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Crônica visitante: As relações entre Jornalismo e Literatura

19 jan

Jornalismo e Literatura: dois irmãos que se rejeitam

Hélio Consolaro Este endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo

“A diferença entre o jornalismo e a literatura é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida.” Oscar Wilde

No início, todos os conhecimentos humanos ficavam juntos, não havia a especialização. A Matemática, por exemplo, era objeto de estudo da Filosofia. No setor da informação, acontecia o mesmo.

Emile Boivin, em sua Histoire du Jornalisme afirma que Homero foi o primeiro repórter que a história da humanidade registra ao narrar em Ilíada os combates gregos e troianos. No entanto, com a evolução da mídia, sabe-se que a obra grega é Literatura, nada tem a ver com o jornalismo na concepção moderna do termo. No Brasil, as manifestações literárias do primeiro século estão mais para o jornalismo que para a literatura, embora seja um capítulo dos estudos de Literatura Brasileira, pois começa com a Carta de Pero Vaz de Caminha, que é um cronista do reino, e passa por relatos de viajantes.

Nessa perspectiva, muitos teóricos não consideram Os Sertões, de Euclides da Cunha, uma obra literária, pois ela está mais para um tratado sociológico (real) do que para o artístico (ficcional). Como não seria literatura no sentido estrito os livros de Fernando Morais, como A Ilha, Chatô, Corações Sujos.

Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, considerava o jornalismo um gênero literário. Talvez não diria isso se estivesse alcançado nossos dias, que se faz um jornalismo escrito meramente factual, querendo erroneamente concorrer com outras mídias.

Na verdade, o jornalista é o profissional do seu tempo, vive o cotidiano efêmero, com prazo de validade; enquanto o poeta, o romancista, o ensaísta está no plano da perenidade, querendo ser eterno.

Num passado recente, jornalismo e literatura, já considerados gêneros diferentes, estiveram de mãos dadas, pois todo jornalista era um escritor em potencial. É só se lembrar do folhetim no Rio de Janeiro, em que os livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, eram publicados nos jornais, que eram semanários, em capítulos, a exemplo das novelas da televisão na atualidade.

Afirmam Flora Bender e Ilka Laurito no livro Crônica: História, Teoria e Prática que o folhetim era um espaço livre no rodapé do jornal, destinado a entreter o leitor e a dar-lhe uma pausa de descanso à enxurrada de notícias graves e pesadas que ocupavam as páginas dos jornais. Com o tempo, o folhetim passou a ser um atrativo para leitores, passando a publicar ficção, capítulos de livros.

Na década de 30, em pleno século 20, Vidas Secas teve assim sua primeira publicação. Daí surgiu a preocupação de Graciliano Ramos em fazer da obra uma novela, cujos capítulos podem ser lidos separadamente, para que o leitor de jornal não ficasse prejudicado.

JORNALISTA E ESCRITOR

O escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880) escreveu: “Considero como uma das felicidades de minha vida não escrever nos jornais; isto faz mal a meu bolso, mas faz bem à minha consciência”. Já Marcel Proust (1871-1922), também francês: “O que censuro aos jornais é fazermos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes, ao passo que nós lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais”.

Pelas citações, percebe-se que o escritor não gosta dos jornais, enquanto os jornalistas não se valorizam tanto se o guia das reflexões for Millôr Fernandes: “Em qualquer roda é fácil reconhecer um jornalista: é o que está falando mal do jornalismo”. Mas nem sempre foi assim.

Paulo Mendes Campos dizia que não acreditava no talento de escritor, sem que ele tivesse passado pelo jornalismo. Machado de Assis foi feito escritor nas redações de jornal, escrevendo e convivendo com a intelectualidade da época, conseguiu ser autodidata. De certa forma, Paulo Mendes Campos tem razão, pois as redações de jornal foram a forja de bons escritores brasileiros. Gabriel García Márquez (1928), prêmio Nobel de Literatura em 1982, escritor colombiano, é um exemplo de imiscuição positiva de literatura e jornalismo.

Na verdade, o jornalismo, quando não havia formação específica, era povoado de escritores, porque viver de publicar livros no Brasil é mérito de poucos. O jornalismo sempre foi a prostituta, quando a esposa amada era a literatura. Assim aconteceram aos cronistas, que eram escritores à procura de sobrevivência. Talvez resida aí a razão do pensamento de Millôr Fernandes sobre jornalista, porque o profissional queria mesmo é ser escritor. Pela necessidade de sobrevivência é que Clarice Lispector também foi cronista.

Por isso, crônica foi sempre considerada um gênero menor, em tamanho e mais ligado ao vil metal. Rubem Braga é um exemplo raro de jornalista-cronista, e só praticou esse gênero, e está na História da Literatura Brasileira por causa dele.

Geralmente, o cronista era romancista, poeta, teatrólogo e escrevia crônicas para sobreviver: Machado de Assis, José de Alencar, Olavo Bilac, Vinícius de Morais, Carlos Drummond de Andrade. Como Arnaldo Jabor, que é um cineasta que virou cronista.

A crônica foi o que sobrou de literatura no jornal depois que os jornalistas, com formação específica, criaram a reserva de mercado, intelectuais e escritores fugiram dos jornais, mas ainda assim o resquício, o cronista, é visto como um elemento estranho nas redações. Um mal necessário.

JORNAL PRECISA SER INTERPRETATIVO

A volta ao passado é impossível, nem mesmo seria inteligente, pois o jornalismo brasileiro, que era mais europeu, americanizou-se, mas ainda é possível que o nível intelectual dos jornais se eleve, porque ele precisa urgentemente se diferenciar da mídia, como televisão internet.

Nunca mais irá acontecer um Correio Braziliense (1808-1822), de Hipólito José da Costa (1774-1823), que era feito na Inglaterra e só chegava ao Rio de Janeiro depois de 30 dias. Era na verdade um livro. Transformar o jornal tão lerdo quanto uma revista ou um livro seria uma temeridade, não há mercado para isso, mas ele pode ser mais substancioso, com mais conteúdo interpretativo da realidade que noticia.

As notícias são dadas no rádio, na tevê, na internet, mas dificilmente se vê nesses meios a interpretação dele, a não ser na tevê paga. E é disso que o leitor está precisando, encontrar a pimenta, um tempero mais carregado, o diferencial no prato chamado jornal. Procura-se no meio uma análise política, uma crônica, um texto mais trabalhado, o lado do noticiário que o cidadão não percebeu. Por esse lado, a intelectualidade e a literatura têm muito que contribuir com o jornalismo.

Bibliografia

MENEZES, Fagundes. Jornalismo e Literatura, 1ª edição. Rio de Janeiro, Editora Razão Cultural, 1997.

BENDER, Flora e LAURITO Ilka. Crônica: história, teoria e prática, 1ª edição. São Paulo, Editora Scipione, 1993.

* Hélio Consolaro, professor, jornalista, escritor e membro da Academia Araçatubense de Letras.

Fonte: Viciados em Livros


Lugar da criação: a ordem inversa das idéias ou como alimentar as letras em meio ao caos

12 jan

 

Ficar em uma bolha, criar uma redoma em si. Ser um anacoreta na própria casa. Quem consegue ?  Por favor, me digam onde fica a paz do escritor que trabalha em casa.  Nas muitas laudas que digitei aqui, ainda não achei resposta. Quem compreende que “aquele ser” trancado no quarto a maltratar as teclas do computador está trabalhando e não apenas viciado em internet? 

Ora inspirador com suas cores, dramas e histórias, ora  um inimigo do bom trabalho. O mundo é ambiguo. Quem insiste em telefonar? E qual assunto no mundo interessaria mais que este momento perfeito que é a criação? Às vezes dá vontade de ser antipática mesmo, tirar o telefone do gancho, pôr o celular no silencioso e não atender, só em caso de ultra-super emergências – embora em muitos casos a curiosidade vença a concentração e eu só me aquiete quando atenda tal aparelhinho.  

 Há momentos que nem o cafezinho importa, a fome idem. Só interessa emiuçar o fio da meada e tecer linhas, frases e palavras na tela. Um labor intenso que só acaba com a  quebra da concentração ou a fuga das idéias. Chegar ao estágio da criação é sair um pouco de si mesmo, não ouvir as marteladas da reforma da casa vizinha, o mal educado que estacionou o carro na esquina com música brega  “nas alturas”, o telefone que toca. É deixar-se levar pela brainstorming organizada, expandida em frases, tirar o supra-sumo da mente.

Sonho com um belo escritório.  Não sei ao certo se incorporado a própria casa dá muito certo. Nem quantas vezes pedi gentilmente, com uma cara meio furiosa: “Esqueçam que estou em casa! Estou trabalhando!”   

Já comecei a procurar algumas idéias diferentes e práticas para o meu escritório...

Já comecei a procurar algumas idéias de móveis bem diferentes e práticos para o meu escritório. Já pensou esta granada? Ou este gaveteiro em fractais? Fonte: Web Urbanist

escritor e jornalista Lira Neto largou a Redação de um grande jornal para formar a sua própria e exclusiva… em casa!  Mas, recentemente decidiu ter um escritório fora do ninho.

Já tive crises de estresse, desejei egoistamente um computador só meu, minha atenção só para mim – só durante o trabalho, não sou workaholic, nem narcisista, nem amo só minha compania. No entanto, ouvir a própria respiração e suspiros, ou os passarinhos na janela sejam um exercício e tanto de relaxamento.

Enquanto não tenho a estrutura, estou juntando umas “caixas de ovos” ( é o novo! ) para não ter interferência de barulho externos…  Eu cá com meus botões e idéias, já faço muita zoada por si só. =)

 

Prefacionismos – Uma amostra grátis

7 nov

         Prefácio

 

Retrato por inteiro do irmão mais velho

 

 

O retrato que abre a página na internet da Família Lustosa e que foi criada pelo João Paulo, filho do Eugenio Pacelli, é do Lustosa. Foi o criador da página, o brilhante sobrinho que, fugindo a tradição da família, revelou-se um craque nas ciências exatas, quem escolheu colocar ali a foto do tio. A escolha da imagem do tio pelo sobrinho, consagrada por todos, revela que, para as novas gerações, depois do desaparecimento de seu Costa em 1994, o Lustosa merece as homenagens que se tributam aos chefes de um clã. E isto talvez se deva à sua presença marcante na vida de todos os que compõem a família Lustosa da Costa, à maneira entusiasmada com que acompanha, saúda e divulga cada uma das vitórias dos irmãos, cunhados e sobrinhos.

Esse entusiasmo e todas as demais características que fazem do Lustosa alguém tão especial estão bem compreendidas nesse livro de Luiza Helena Amorim. Por meio de uma grande quantidade de depoimentos ela reuniu informações não só sobre o seu biografado mas também sobre toda sua família. Foi além, construindo uma narrativa em que há boas descrições de Fortaleza e de Sobral em momentos diversos de sua história. A autora recupera na trajetória dos afetos do jornalista, a formação de um círculo de amigos que se conserva até hoje em um convívio, ao mesmo tempo, irreverente e carinhoso. O espírito de uma geração de jornalistas e intelectuais cearenses do qual o Lustosa faz parte, está aqui revelado de forma divertida e bem humorada: os hábitos boêmios, o humor sofisticado, a audácia juvenil dessa turma que, hoje, quase toda na casa dos setenta, ainda tem grande atuação na vida da cidade.

Através das entrevistas, Luiza Helena recupera a memória de nossa história familiar,  o lugar central que sempre teve nela, o filho mais velho de seu Costa e de D. Dolores, e a grande influência que teve na formação e no destino de seus doze irmãos mais novos. A infância do jornalista; o começo de sua vida em Sobral; o orgulho que seus pais sempre tiveram de sua inteligência e seriedade; os primeiros escritos; os primeiros impressos… toda a sua história vai emergindo através de uma narrativa fluida, agradável e bem construída. O tempo do seminário é descrito com grande riqueza de cor e sentimento. Especial destaque merece a cena emocionante da platéia de seminaristas ouvindo em um rádio de pilhas o último jogo da Copa de 1950 no Maracanã. Em passagens assim percebe-se que, além das entrevistas, houve grande investimento da autora na pesquisa de fontes bibliográficas e hemerográficas.

A mudança de cenário de Sobral para Fortaleza, as referências ao Beco da Piedade, ao ambiente dos clubes Náutico e do Ideal, ao clima das redações dos jornais e dos bastidores dos programas de TV, das campanhas políticas são alguns dos muitos temas que vão sendo colocados de forma bem encadeada ao longo da narrativa. As transformações do personagem acompanham as mudanças do meio. Assistimos o processo pelo qual o tristonho e solitário ex-seminarista se transformou, em pouco tempo, no jornalista famoso e benquisto da imprensa cearense, darling da sociedade elegante. Mérito exclusivamente seu, de sua personalidade forte, de seu talento para a escrita, da vasta cultura conquistada através do hábito da leitura cultivado desde a primeira infância e, porque não dizer, também de seu charme pessoal. Conjunto de qualidades que lhe valeram o lugar que ocupou e que ocupa na imprensa escrita, falada e televisiva, na política, na cultura e na sociedade cearenses, como também no coração de todos nós que lhe queremos bem.

Dividindo os capítulos entre tempos de vida e aspectos das atividades do biografado, Luiza Helena Amorim não deixou a descoberto nenhum dos ângulos que compõem a figura de Francisco José Lustosa da Costa. Não se trata no entanto, de livro apologético, onde a biógrafa se perca em palavras de louvor ao biografado. Dando voz aos entrevistados, incluindo as críticas que lhe fizeram alguns, os aspectos mais difíceis de sua personalidade, aliando à narrativa uma rara sensibilidade para perceber suas contradições, Luiza Helena  Amorim produziu o retrato definitivo de um homem em seus múltiplos tempos e lugares.     

 

Isabel Lustosa      

Fonte da Saudade, 12 de outubro de 2008