Crônica visitante

16 dez

Palavra, para que te quero?

Adísia Sá

 

 

Ando meio “cabreira”, de repente me vejo cercada por algo que não estava no meu universo: a falta de palavra.

 

Sei que sou das antigas, criada numa família onde o “sim” era sim, o “não”, era não. Meu pai não admitia que se inventasse desculpas por algo prometido e não cumprido, tampouco aceitava o “vou pensar”… “é possível” … “tudo bem” em referência a palavra empenhada. Talvez eu esteja superada ou tudo aquilo que meu pai dizia era papo de gente das “outrora”. O certo é que sou deste tipo de família onde a palavra era “código de lei”.

 

Costume de casa vai à praça. Pois foi o que aconteceu. De menina criada num lar de “palavra” passei a juventude sem alterar nada; ultrapassei a maturidade seguindo a mesma linha e estou hoje, na velhice, sem tirar nem por nada sobre o que aprendi e vivi ao lado de meus pais.

 

Soube, ao longo dos anos, que este não era traço só de minha casa, mas de membros da família Barros e, com absoluta ênfase, dos Sá. Mas, aqui não estou para louvar as minhas origens, mas para dizer do estado em que me encontro agora : envolvida por um clima de “desvalores”, onde o que é dito e garantido aqui, não vale nada ali, nem o que é afirmado como “verdade”, não passa de doloroso equívoco. As pessoas afirmam uma coisa aqui e ali ou pouco depois, não concretizam nada do que foi garantido.

 

“Volto a telefonar, logo mais.” Você ligou? “Garanto a você que estou preparando o material. Estou enviando…” Você mandou? “Aguarde, que o mensageiro chega já.”. Seu mensageiro foi mandado?

 

Este clima de falta de palavra me cerca, me sufoca, me deprime, me envergonha. Também a você?

 

Você é ainda do tempo em que a palavra era dogma de fé… questão de honra… marca registrada de gente ?

 

Por favor, não responda: continue gente…

 

ADÍSIA SÁ

Jornalista

 

 

                       

Fonte: Jornal O POVO , 16 de dezembro de 2008

 

P.S. Também ando sem palavras professora!

 

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